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O manto de morte que impediu o natal

     ​De modo suave, silencioso, mal pisando o chão, ela entra em meu gabinete.

 

"Boa tarde,“ diz ela como que perguntando se é bem vinda a este lugar.

"Boa tarde, Cris. Prazer em revê-la. Então, você poderia me recontar algo daquilo que ficou claro em nosso último encontro?

Sim, pastor. Eu tinha lhe contei a minha vida: meu pai faleceu ainda muito jovem, um pouco antes do natal.

Quantos anos ele tinha então?

42. Ficamos minha mãe e meus três irmãos, todos pequenos. A minha mãe ficou tão chocada que não nos permitiu ir ao sepultamento. Acho que isto complicou o meu processo de luto. Quando veio o natal, ela proibiu que erguêssemos uma árvore de natal. Foi como que se a alegria ficasse proibida de entrar lá em casa.

Parece que consigo enxergar a menina no triste natal daquele ano.

Meu pai deixou dívidas, minha mãe então foi à luta. Nós ficamos largados nas casas de tios e avós. Aprendi que precisava ser dura para não afundar. Passei por diferentes empregos, sempre fui muito eficiente, mas nunca fui promovida. Parecia que estava escrito em minha testa que eu poderia ser explorada.

E parece que eles sabiam que você não iria reclamar.

Exato. Amor eu também não sei o que é. Tive alguém em minha vida que nada mais fez do que me explorar, me abusar, se aproveitar de mim. O que restou foi uma filha e uma vida em ruínas.

Você não sabe quem você é, nem para que viver!

Estou agora já há tantos anos na igreja, presto atenção às pregações, tento sinceramente ouvir a voz de Deus, mas continuo perdida em meus pensamentos e sentimentos. O senhor tem esperança para mim, pastor?

​ Eu aceno com a cabeça. “Sim, Cris. É como que eu te coloquei na última vez: por enquanto estou tentando te conquistar para fazer uma caminhada de aconselhamento. Você irá se conhecer, irá rever a história de sua vida em etapas e descobrirá passo a passo como mudar as coisas.

Eu preciso disso pastor. É isso que eu quero. Cansei de dar cabeçada. Cheguei aos 55, não tenho mais tempo para perder.

Estou acertando quando descrevo você como uma mulher coberta por um manto de tristeza permanente?

Sim, quando vem a época do natal, minha tristeza se multiplica. Quero que passe logo esse tempo de natal e meu aniversário que vem logo depois.

Isto não é um contrasenso? Cristã, filha da esperança, debaixo do senhorio de Cristo, não querer experimentar a alegria do natal?

Eu entendo, pastor. Mas o que eu vou fazer? Aquilo me acompanha desde a morte do meu pai e a experiência terrível daquele primeiro natal logo após seu falecimento.

“Quantos anos você tinha naquela época?”

Quatro.

Percebe como aquela menina não tinha outro modo a não ser se sujeitar ao que a mãe impôs então? Ela freqüentava alguma igreja naquela época?

Ela era espírita.

Veja se eu estou compreendendo corretamente: Você, menina de quatro anos, experimenta a tragédia do falecimento repentino do pai, a mãe impede você de se despedir do seu pai na cerimônia de sepultamento, a seguir proíbe a celebração do natal e lógico, também não há festa em seu aniversário logo a seguir ...”

Onde o senhor está tentando chegar?”

Naquela vez foi colocada sobre a sua vida uma sombra de luto e de morte constante. A menina nada podia fazer contra isso. Mas o que muito me admira: você cresceu, abraçou a fé em Jesus, tornou-se membra da igreja, mas continua mantendo sobre si este manto de morte?!

Mas o que eu vou fazer, pastor? Ele está lá, colocado. Tem como tirar?

Lembra do Salmo 23, Cris, que diz, ‘Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte’?

Sim.

Pois é. Ninguém está imune de ser atirado repentinamente para dentro do vale da sombra da morte. Mas veja, ali diz ‘ainda que eu ande’, você fez morada ali. Você abriu sua tenda permanente no vale da sombra da morte. Estou certo?

O senhor acha que eu posso fazer algo contra isso?

Com certeza. Você está se comportando como se você fosse o objeto de uma força superior, uma força do mal, e não tivesse o direito à iniciativa, não tivesse poder sobre sua vida, como se não tivesse a permissão ou poder para redirecionar o caminho torto que se instalou em você.

É verdade! Mas o que posso fazer?

Em primeiro lugar: tomar consciência desse fato em sua vida: ‘Sim, sobre mim pousou um manto de morte e tristeza que agora me acompanha em todos os momentos e impacta meus pensamentos e sentimentos’. É isso? Eu estou descrevendo corretamente o que acontece em você?

Sim, pastor. Sim.

Primeiro passo é constatar essa presença do mal em você e sobre todas as áreas de sua vida. Em segundo lugar: voltar-se para o autor da vida. Deus diz em Isaías: ‘Eis que estou a fazer coisa nova na terra. Eis que já vem vindo a luz. Podeis sentir? Farei para vós caminhos novos e rios no deserto. Não vos lembreis das coisas passadas, nem retorneis as antigas!

Você aceita sobre sua vida a atuação do Espírito de Deus e da sua presença transformadora em seus pensamentos e seus sentimentos?

Eu quero dar este passo de fé. Eu quero trabalhar para descobrir quem eu sou e para que Deus me criou. Eu quero descobrir o plano original de Deus para minha vida. O senhor ora por mim agora?

É verdade que viúvas, mulheres solteiras ou separadas se ressentem do fato de muitas vezes não terem ninguém que ore por elas, ninguém que as abençoe em nome de Jesus. Que bom que você teve a liberdade de pedir. Quero fazê-lo neste instante.

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